Viva!
Como não recebo, normalmente, grande resposta daquilo que escrevo neste
blog, permito-me discorrer um pouco sobre o título que escolhi. Celebrizada, julgo eu por uma história catequizante do
Bruce Barton nos anos sessenta, a expressão «
a tale of two seas» tornou-se lugar-comum quando se tenta correlacionar eventos em dimensões não-correlacionáveis. Exemplo disso é o projecto de escavação arqueológica em Vale de Boi, Vila do Bispo, liderada pelo
Professor Nuno Bicho (merece o negrito!), «
A tale of two seas: Upper Paleolithic ecology in Vale Boi, southwestern Algarve», em que tive a
honra de participar na campanha de 2009.
Mas, falando de
marmelada, temos a situação
monty pytonesca de Odivelas:
a tale of two marmelades... (Fica giro se for dito com sotaque à
Lauro Dérmio!)
Será que uma é a marmelada do poder e a outra é a marmelada da oposição? E porquê duas confrarias de um produto tradicional que tem por base um fruto, nomeadamente o marmelo que, vivendo em Odivelas desde os meus quatro anitos, não tenho memória de ver no Concelho árvore que o desse, nomeadamente o marmeleiro? Não será isto um pouco como o Pata Negra de Barrancos, feito com pernas de porco morto em Espanha? Ou as migas de espargos importados do Perú? Ou aqueles restaurantes que têm um vinho da casa "
mesmo bom!" que é «
mistura de vinhos provenientes de diferentes países da UE»?
Será que a antiga confraria era um contra-poder, apegada ao
status quo, imobilista e reaccionária? E a nova confraria é revolucionária, chavista, "
poder ao povo"? Será que há marmelos PS e marmelos PSD? Mas, julgo eu, na marmelada como na economia, o objecto de disputa e cobiça é o mesmo: o marmelo ou o dinheiro, indiferente a quem o reclama...
O que me parece é que o pobre fruto está a ser vítima do mesmo que a pobre classe trabalhadora deste país. Todos a disputam para o mesmo fim: com sorte, no final, sobra o caroço!
E como de marmelos também é feita a nossa politiquice, a César o que é de César e Sócrates só sabe que nada sabe... E se calhar, nem isso! Mais uma vez, duas confrarias da marmelada, não branca mas rosa, que se desentendem. Uma história de dois mares em que, por navegar sem timoneiro, a nau há-de bater na rocha e o mexilhão somos nós!
Finalizando, para não maçar o pobre leitor que, pelo navegar desta nau desgovernada, quando acabar de ler este singelo texto estará ainda mais pobre que há dois minutos atrás, em vez de celebrar o Dia da Floresta Autóctone com a plantação de uma oliveira centenária na Ribeirada, porque razão não plantou a nossa Presidente um marmeleiro junto aos Paços do Concelho? Terá sido por receio de em 2013 levar uma vergastada com um pau da dita árvore?
Cumprimentos!
António Gaito