06/12/10

Portugal e a Marmelada ou «A Tale of Two Seas»

Viva!
Como não recebo, normalmente, grande resposta daquilo que escrevo neste blog, permito-me discorrer um pouco sobre o título que escolhi. Celebrizada, julgo eu por uma história catequizante do Bruce Barton nos anos sessenta, a expressão «a tale of two seas» tornou-se lugar-comum quando se tenta correlacionar eventos em dimensões não-correlacionáveis. Exemplo disso é o projecto de escavação arqueológica em Vale de Boi, Vila do Bispo, liderada pelo Professor Nuno Bicho (merece o negrito!), «A tale of two seas: Upper Paleolithic ecology in Vale Boi, southwestern Algarve», em que tive a honra de participar na campanha de 2009.
Mas, falando de marmelada, temos a situação monty pytonesca de Odivelas: a tale of two marmelades... (Fica giro se for dito com sotaque à Lauro Dérmio!)
Será que uma é a marmelada do poder e a outra é a marmelada da oposição? E porquê duas confrarias de um produto tradicional que tem por base um fruto, nomeadamente o marmelo que, vivendo em Odivelas desde os meus quatro anitos, não tenho memória de ver no Concelho árvore que o desse, nomeadamente o marmeleiro? Não será isto um pouco como o Pata Negra de Barrancos, feito com pernas de porco morto em Espanha? Ou as migas de espargos importados do Perú? Ou aqueles restaurantes que têm um vinho da casa "mesmo bom!" que é «mistura de vinhos provenientes de diferentes países da UE»?
Será que a antiga confraria era um contra-poder, apegada ao status quo, imobilista e reaccionária? E a nova confraria é revolucionária, chavista, "poder ao povo"? Será que há marmelos PS e marmelos PSD? Mas, julgo eu, na marmelada como na economia, o objecto de disputa e cobiça é o mesmo: o marmelo ou o dinheiro, indiferente a quem o reclama...
O que me parece é que o pobre fruto está a ser vítima do mesmo que a pobre classe trabalhadora deste país. Todos a disputam para o mesmo fim: com sorte, no final, sobra o caroço!
E como de marmelos também é feita a nossa politiquice, a César o que é de César e Sócrates só sabe que nada sabe... E se calhar, nem isso! Mais uma vez, duas confrarias da marmelada, não branca mas rosa, que se desentendem. Uma história de dois mares em que, por navegar sem timoneiro, a nau há-de bater na rocha e o mexilhão somos nós!
Finalizando, para não maçar o pobre leitor que, pelo navegar desta nau desgovernada, quando acabar de ler este singelo texto estará ainda mais pobre que há dois minutos atrás, em vez de celebrar o Dia da Floresta Autóctone com a plantação de uma oliveira centenária na Ribeirada, porque razão não plantou a nossa Presidente um marmeleiro junto aos Paços do Concelho? Terá sido por receio de em 2013 levar uma vergastada com um pau da dita árvore?
Cumprimentos!
António Gaito

Sem comentários: