25/06/11

O "novo ciclo"

Chegou-me hoje às mãos a edição do Jornal de Odivelas de 23/06/2011 onde encontro na página 10 um artigo de opinião com o título " O PS e o novo ciclo", da autoria do líder da bancada do PS na AM de Odivelas, Miguel Cabrita.
Não há dúvida que é um artigo interessante e bem escrito, apesar de discordar com o mesmo em alguns pontos. Vamos por partes:
1- Diz Miguel Cabrita que "O PS sai do governo (...) com a sensação do dever cumprido". Não posso deixar de me espantar com esta frase... "Dever cumprido"? O que cumpriu o PS? Conseguir deixar Portugal numa situação humilhante e de mão estendida, aumentando o déficit publico para niveis nunca vistos? Conseguiu "embrulhar" ainda mais a Justiça, colocar a autoridade nas lonas, deixar os criminosos soltos? Conseguiu incutir no povo Português o espirito do "salve-se quem puder", a vontade (ou a necessidade) de os nossos jovens em emigrarem procurado um inicio de vida num país que lhes possa oferecer condições? Sim, parece-me que entre outras coisas o PS conseguiu "cumprir" com estes "designios";
2- Para Cabrita, Portugal é um país "apesar de tudo mais preparado em muitos sectores: na educação e formação de jovens...". Saberá o lider da bancada do PS na AM de Odivelas do que fala? Na educação??? Onde são impingindos às crianças e aos seus pais mini pc's que nunca utilizarão na sala de aula? Onde as crianças são deixadas por sua conta e risco nos recreios? Onde turmas passam um periodo inteiro sem que sejam leccionadas disciplinas (sei do que falo: Na EB 2 Carlos Paredes, no nosso concelho, uma turma passou todo o 3º periodo sem matemática, uma disciplina básica, por baixa do professor), onde os professores não têm qualquer autoridade?
É realmente uma pena que as suas palavras não correspondam à realidade do país;
3 - A segunda metade deste artigo opina sobre o acordo com a troika, o compromisso do PS em cumpri-lo (cá estaremos para ver a sua boa colaboração) apesar do mesmo ter sido efectuado porque os partidos da oposição na altura (leia-se PSD e CDS) não queriam "impor mais sacrificios aos Portugueses". Esqueceu-se de dizer que nessa altura, o governo PS propunha-nos o PEC 4, após não ter demonstrado qualquer resultado com os PEC's 1, 2 e 3, sendo que a confiança dos Portugueses na execução de mais um PEC pelo mesmo governo era, nessa altura, nula. Que capacidades teria o governo PS para implementar mais um PEC, se não foi capaz de cumprir os anteriores?
4- Por esta razão (a obrigatoriedade do acordo com a troika para não impor mais sacrificios aos Portugueses), diz Cabrita, o PS nã apoiará qualquer medida do actual governo para ir ainda mais longe. Penso é que não terá percebido que, nesta conjuntura, "ir ainda mais longe", significa salvar Portugal, retirá-lo do "buraco" onde o PS o pôs o mais rápidamente possível, restaurar a confiança dos mercados e da UE e afastarmo-nos o mais depressa possível da situação grega que ameaça tornar-se numa bola de neve, levando todos os países periféricos atrás de si;
5 - Para terminar deixo aqui as palavras do nosso novo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Paulo Portas, sobre o novo ciclo de Portugal: "Na verdade, o nosso ponto de partida é dificílimo - e podia não o ser tanto se tivessem sido tomadas providências. Mas agora é agir com rigor e cumprir com determinação."

2 comentários:

Miguel Cabrita disse...

Cara Carla,

um sincero obrigado pelo seu comentário e crítica ao texto que escrevi. Nos tempos que correm, e pelo que se vai vendo, em Odivelas não é frequente que as discordâncias sejam assumidas e esgrimidas mantendo um registo de serenidade e elevação q.b. – nem entre adversários políticos nem com outros intervenientes na esfera pública.

Quanto à substância do que escreve, estaremos condenados a não concordar, mas é também da não concordância que se fazem as democracias e, em geral, os debates.

No que toca à educação, não podemos confundir a parte pelo todo. Não conheço o caso que cita – e outros haverá!, é impossível que assim não seja num universo de milhares de escolas. Mas sempre lhe digo que me lembro bem da escola pública de há apenas duas décadas e só o facto de estarmos a falar de um caso localizado como motivo de indignação e não de uma realidade recorrente ou até generalizada diz bem do progresso que se fez entretanto. E que, sim, se fez muito nos últimos anos – aliás, basta olhar para o parque escolar de Odivelas e para a realidade educativa do Concelho. A nível nacional, é essa a apreciação generalizada em múltiplas avaliações isentas e em todos os indicadores disponíveis. Da escola a tempo inteiro, às actividades de enriquecimento curricular, aos resultados sem precedentes no combate ao abandono escolar, é no mínimo injusto e desfasado da realidade desvalorizar este caminho. Mesmo no que toca às novas tecnologias, há vida para além do Magalhães: as escolas têm hoje ligação à internet e material para dela tirar partido. E mesmo quanto ao Magalhães (ou a outro equipamento qualquer que o substitua), o facto é que está disponível, que as crianças o têm, e se não é valorizado nalguns contextos como instrumento pedagógico…algo vai mal não com o Governo, não com o computador, não com as crianças, mas com a Escola que desperdiça assim tal recurso posto à disposição da aprendizagem.

Nas restantes áreas que refere, verifico que não menciona nenhuma das que listei como tendo tido melhorias estruturais. Nas que refere, faço uma avaliação dividida dos progressos na justiça (existiram, e alguns deles relevantes, mas é verdade que há muito a ser melhorado); e não concordo de todo com a avaliação que faz no que toca à segurança. Mais uma vez não é o que os indicadores disponíveis nos mostram – e certamente não em Odivelas. Sendo que é verdade que o sentimento de (in)segurança é algo que temos de ter em atenção, mas nem depende (apenas) dos níveis de criminalidade, nem deve (se a preocupação com a segurança é real) ser reproduzido e amplificado como se correspondesse a uma realidade factual, porque isso tem também efeitos na percepção das pessoas, em ciclo vicioso.

Por fim, e no que toca ao acordo com a troika, acreditar na narrativa um pouco maniqueísta de que todas as responsabilidades recaem sobre o PS será confortável para muitos e seria aliás óptimo sinal para o país…bastaria então mudar de responsáveis políticos e tudo estaria resolvido! Em Portugal como em todos os países em dificuldades, aliás. Infelizmente, a realidade é “um pouco” mais complicada.

No que agora importa, o compromisso do PS não está em causa. Mas o compromisso é com o acordo, justamente, e com maneiras de o implementar que protejam, tanto quanto possível, as pessoas. Foi isto que foi assumido na campanha eleitoral, em nome (entre outras coisas) do Estado social, que não é um fardo mas um recurso muito importante. Outros que interpretam o acordo de outra maneira, e em nome de outros valores e objectivos, fazem bem em assumi-lo. De qualquer modo, o acordo tal como está escrito como condição necessária para o financiamento da economia portuguesa e como “novo limite dos sacrifícios” foi validado também pelo PSD e pelo CDS como a solução a adoptar. Se querem ir "mais longe" (?), podem fazê-lo, têm aliás maioria para isso. Só não podem é esperar à partida que outros subscrevam (todas) essas opções.

Saudações democráticas,
Miguel Cabrita

Carla Rodrigues disse...

Caro Miguel,
Eu é que agradeço a atenção que deu ao meu texto e o tempo que dispensou a responder. Quando os "adversários" politicos demonstram educação e inteligência, a troca de ideias, mesmo que contraditórias, é um prazer e estou absolutamente de acordo que é assim que se faz democracia.
Eu também me lembro da escola pública de há duas décadas, frquentei-a, e por acaso, com excepção do período lectivo ter aumentado (o que é bom), não reconheço grandes diferenças. No meu texto dei um exemplo concreto do "Ensino" que se pratica no país, mas infelizmente poderia-lhe dar muitos mais, quer por os conhecer directamente, quer através de relatos de outros Encarregados de Educação ou mesmo pela comunicação social. Por esse motivo, embora preferisse mil vezes que a sua versão fosse a correcta, tenho que pensar que estes não são apenas "casos isolados", mas sim o espelho de uma triste realidade.
Quanto ao parque escolar, já referi noutras ocasiões, que sim, não há dúvida que houve melhorias, mas veja-se por exemplo o caso da EB 1 Barbosa du Bocage, na Póvoa de Sto Adrião, onde uma "cara lavada" não consegue esconder uma remodelação mal feita e pior, que põe em causa a integridade física das crianças. Mas, na minha modesta opinião, "parque escolar" é uma coisa (e pode ser um bom ponto de partida), mas Educação é outra, e o governo anterior pecou por olhar pouco para os conteúdos e para os programas e até mesmo para a organização escolar. "Avaliações isentas"? Permita-me que duvide...
Quanto á (in)segurança, de facto, não disponho de dados estatísticos, mas acho que não é preciso ir muito longe para sabermos que também, de há duas décadas a esta parte, as coisas mudaram e para bem pior. E não penso que o "sentimento de insegurança" seja apenas fruto de alguma "intoxicação" feita pelos jornais.
Por fim, e para não nos alongarmos eternamente, porque estes assuntos dão "pano para mangas", o PS pode não ser o único responsavel por todos os factos que nos levaram ao acordo com a troika (de facto, todos somos) mas é, com certeza, o principal, ou não fosse o PS o governo deste país durante os últimos 6 anos (quatro dos quais com maioria absoluta), e por mais que custe, é aos (bons)governantes que cabe assumir as responsabilidades.
Retribuo as saudações democráticas,
Carla Rodrigues