23/11/05

" O CDS/PP está cada vez mais dividido entre o grupo parlamentar e a direcção liderada por Ribeiro e Castro. A tal ponto que as repetidas divergências entre deputados e estrutura dirigente já se transformaram num conflito aberto, marcado por sucessivas críticas mútuas.

O último episódio prendeu-se com as declarações de José Paulo Carvalho, porta-voz e membro da direcção do partido, que causaram ontem enorme contestação entre o grupo parlamentar. Com os deputados a exigirem explicações ao dirigente centrista, José Paulo Carvalho enviou um "esclarecimento" ao DN, afirmando que "mantém, e julga que nisso todos concordarão, que a 'dessintonia' entre grupo parlamentar e Direcção é prejudicial ao Partido; o esforço por melhorar a coordenação é de todos, e está certo que todos os dirigentes do partido e do grupo parlamentar estão empenhados nesse objectivo".

Nuno Melo, líder parlamentar do CDS, considerou assim resolvidas "declarações que poderiam ser consideradas depreciativas". Isto "na medida em que todos concordamos que direcção e grupo parlamentar devem fazer um esforço no sentido da coordenação", afirmou ao DN, apontando este esclarecimento como "um exemplo da coordenação que todos defendem".

Bancada 'versus' direcção. Quando assumiu a liderança do CDS/PP, no congresso realizado no passado mês de Abril, José Ribeiro e Castro "herdou" uma bancada parlamentar formada sob a direcção de Paulo Portas. E que reúne alguns dos nomes que mais de perto trabalharam com o ex-líder do CDS. Não por acaso, todos estiveram ao lado de Telmo Correia, o candidato derrotado no congresso de Abril. E, desde então, têm protagonizado grande parte das críticas à direcção do CDS - primeiro foram as eleições directas, depois a questão das presidenciais e a leitura sobre os resultados das autárquicas.

As divergências estendem-se das questões de estratégia a posições de princípio - uma clivagem que ficou expressa há cerca de duas semanas, quando deputados e direcção se dividiram quanto à aceitação do uso de embriões (inviáveis) para investigação científica. Uma matéria que levou até Paulo Portas a quebrar o silêncio público que tem mantido.

Com repetidos conflitos e em crescendo de tom, a bancada parlamentar é hoje identificada, no CDS, como o grande foco de oposição interna. Uma designação em que cabem nada menos que dez dos doze deputados do partido. A excepção vai para Miguel Anacoreta Correia que, a par de deputado, é também vice-presidente do CDS. E para Diogo Feio, que tendo sido já deputado durante o consulado de Paulo Portas, integra actualmente a comissão política do partido, e tem mantido silêncio no fogo cruzado entre as duas partes.

De um lado e de outro da contenda, e face à escalada de críticas que tem marcado a vida interna do CDS - e embora direcção e deputados já apontem a necessidade de tréguas - é voz comum que o diferendo só terá fim com nova disputa da liderança. A repetir o mesmo cenário de um lado, Ribeiro e Castro, do outro um deputado, muito provavelmente Pires de Lima."

in Diário de Noticias 23 de Novembro de 2005

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