18/05/07

«Pires de Lima quer direita a defender direitos individuais»

São José Almeida escreveu hoje no Público, que Pires de Lima quer a direita a defender direitos individuais.


O CDS aplaude o regresso de Portas e elege a sua direcção. O sal e a pimenta do congresso deverão ser as propostas de Pires de Lima

António Pires de Lima deverá ser um dos protagonistas do XXII Congresso do CDS, que hoje se inicia em Torres Novas, e que se destina a eleger a direcção de Paulo Portas, o líder recém-eleito em 21 de Abril. A ideia do ex-dirigente e antigo porta-voz da direcção do CDS é a de liderar a primeira tendência interna no partido, uma tendência que se assumirá como claramente liberal, e através dela procurar modernizar o discurso e as propostas do partido, dando uma particular atenção à defesa dos direitos individuais, de forma a que o CDS se constitua uma força agregadora da direita e uma alternativa aos socialistas. [sublinhado meu FV]

"A direita portuguesa é uma espécie de herdeira do absolutismo do século XIX, mantém o absolutismo sobre os valores e não tem um discurso de respeito dos direitos dos outros, dos direitos individuais", critica Pires de Lima, em declarações ao PÚBLICO, acrescentando que o CDS tem de "reconhecer o direito de uma pessoa não ser julgada pelas suas opções de vida".

Pires de Lima reconhece que combinou com Paulo Portas esta mudança orgânica, mas que a formação de uma tendência dependerá das decisões do congresso. Sublinha, porém, que se a existência de tendências não entrar já nos estatutos, isso deverá a acontecer num próximo conclave. Hoje, almoça no Café Nicola, em Lisboa, com algumas das figuras que integram o grupo que já se autodenomina Ala
Liberal
: Diogo Feyo, Teresa Caeiro, Filipa Correia Pinto, Adolfo Mesquita Nunes, Leonardo Matias, Paulo Pinto de Mascarenhas, Manuel Sampaio Pimentel e Filipe Lobo d"Ávila.

"Existe vontade muito forte do CDS se abrir a mais pluralismo interno e mais diversidade interna para mudar imagem e crescer e atrair outros públicos", explica Pires de Lima, acrescentando: "O CDS precisa ser mais aberto, mais dialogante, para poder crescer; o CDS se continua no caminho dos últimos 20 anos, tem um horizonte eleitoral que não passa os dez por cento; se quiser ser alternativa ao PS, tem de cultivar o pluralismo interno." E criticando a forma como o CDS tem funcionado, diz: "A direita em Portugal sempre foi muito monolítica, do tipo quem não está por nós está contra nós, é uma herança do tempo da outra senhora. O CDS nunca se livrou desse monolitismo, sempre olhou para a diferença como divergência e são vários os exemplos na história do partido de divergências que levaram a dissidências."

Discurso liberal

No plano político e ideológico, Pires de Lima critica que "o CDS tenha reduzido o discurso liberal à economia" e sobre o modelo económico, adverte: "Considero que o Modelo Social Europeu não pode ser posto em causa por importação do modelo dos EUA. O liberalismo deve defender a liberdade de escolha, a liberdade de escolha individual, de escolher a escola, médico, o centro de saúde. O CDS tem um
caminho importante a seguir aí, um caminho a propor à sociedade; deve preparar e apresentar propostas que devem ter solidez e que não sejam ameaça aos direitos
dos cidadãos."

Mas não basta ao CDS ser liberal na economia: "Devemos defender a liberdade das pessoas organizarem a sua vida como querem, com as opções de vida que querem e com a liberdade de disporem das suas vidas." Alerta para como a direita europeia defende e toma posição sobre direitos individuais. "Por todo o lado vemos os partidos de direita a assumir posições de defesa dos direitos individuais. Em Espanha, o PP acompanha a agenda das chamadas questões fracturantes", diz, sublinhando: "É preciso respeitar a liberdade das pessoas. Se eu defendo isso na educação e na saúde, tenho de o defender também em relação a todos os direitos."
A preocupação com os direitos individuais não significa que o CDS não seja contra o reconhecimento desses direitos, mas Pires de Lima considera que "há necessidade da direita ter posição e ter iniciativa e não copiar, para pior, as posições de outros". Ou seja, "não perder por falta de comparência ao debate, nem permitir que estas questões sejam lideradas pela esquerda mais radical".

Outra crítica que Pires de Lima faz ao CDS é a ligação deste partido à doutrina da Igreja católica: "O CDS não pode ser marcado por valores de um partido confessional. Muitas vezes no CDS confunde-se o que são os valores confessionais individuais com o que deve ser a proposta de modelo de sociedade." Isto para defender que "o que é importante é que o CDS que se vai afirmar a partir do congresso seja um CDS aberto à discussão. Os partidos existem para servirem as pessoas e têm de se questionar permanentemente sobre se estão a cumprir esse objectivo". Por isso, sustenta: "O CDS não tem de ter as posições da esquerda, mas tem de discutir tudo. Não é só a crise económica e a saúde e a educação que condicionam a vida das pessoas. E é até esquizofrénico que um partido se diga tão liberal na economia e seja tão defensivo nas questões de direitos individuais." E conclui: "A coisa que mais me custa é que homens e mulheres maduros não sejam capazes de debater e tenham posições cristalizadas há 20 ou há 30 anos."

"A direita portuguesa é uma espéciede herdeira do absolutismo do séculoXIX", diz Pires de Lima.
Goste-se ou não, estas ideias devem ser discutidas no nosso seio e de imediato, como o já deviam ter sido há mais tempo. Pessoalmente, não concordo nem me identifico com muitas delas, nas em outras ele tem razão, e muita! Voltarei a este assunto.

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