"O homem comum é exigente com os outros; o homem superior é exigente consigo mesmo"
Marco Aurélio
Enganado pelo título foi o leitor se, de alguma forma julgou que eu, pelo menos desta vez iria falar de cultura. Pelo menos no sentido que o Ministério da Cultura habitualmente entende ser cultura, isto é, praticamente limitando-se à arte em geral, à arte como reflexo de cultura, quando para mim, a palavra cultura compreende bem mais do que isso.
Já passou algum tempo, mas ainda estou bem recordado das conclusões a que cheguei quando o ano passado vi na RTP 1 um «Prós e Contras» que, não me recordando do título exacto do debate, posso, com certeza afirmar que pretendeu debater a imagem que Portugal tem no estrangeiro.
Nesse debate, e também já não me recordo quem eram os oradores falou-se da imagem que a Alemanha, Itália, Espanha, etc. têm, debatendo e comparando com a de Portugal.
Mas quando me refiro à imagem portuguesa não me refiro à que reflecte a Constituição da República Portuguesa, nem da cor ou tendência política da Assembleia da República ou do Governo, mas sim de Portugal enquanto marca.
Isto é, como é que Portugal e os portugueses são vistos lá fora, como são vistos os nossos produtos, a nossa maneira de viver e de trabalhar, como é que uma marca portuguesa pode e deve ousar ser empreendedora o suficiente para com sucesso poder saltar fronteiras.
Nesse «Prós e Contras» deram-se exemplos de sucesso. Sucesso pela inovação, sucesso pela tradição, mas sempre sob a batuta da qualidade.
Se por um lado se associa, por exemplo, os automóveis alemães a segurança, os italianos a design, os produtos franceses a glamour, classe e requinte, os britânicos a cortesia, elegância, pontualidade e até se caracteriza o seu humor, nós Portugal o que temos?
Fazia ideia que a Via Verde, exemplo de inovação brindado com enorme sucesso é criação portuguesa? Sabia que, tal como a Via Verde o software utilizado nas nossas caixas multibanco, para além de ser português é exportado por ser tão bom? Sabia que a Família Real Inglesa ocasionalmente utiliza serviços Vista Alegre?
Exemplos de Portugal genial.
Talvez durante o mês de Junho vi um programa na SIC Notícias, salvo erro SUCESSO.PT onde pretendendo falar de empreendorismo e de oportunidades foi dito que, umas principais dificuldades que uma marca portuguesa encontra para crescer em Portugal é precisamente o facto de ser portuguesa.
Conhece a marca de roupa de homem Wesley? Sabia que uma marca de roupa que transmite um inconfundível estilo britânico, que rivaliza com marcas americanas como a Gant e Arrow é de facto, portuguesa?
Sabia que a marca de calçado Pablo Fuster foi criada por uma família do norte do país?
Pense agora porque será que os nomes não são portugueses. Será que para os portugueses em geral o que é nacional já não é tão bom?
No dia 27 de Julho de 2006, no Diário de Notícias, mais concretamente na revista LIFE, suplemento que fazia parte integrante do jornal, vinha publicada uma entrevista com um senhor, um homem que respeito e admiro imenso. Um empresário de sucesso, seu nome José Roquette.
O dr. José Roquette disse e cito:
" o percurso que a economia nacional deve seguir, para além de todos os planos tecnológicos, é criar uma nova cultura. É instaurar uma cultura de qualidade. (...) Esta cultura tem de envolver os consumidores. Os portugueses têm de ser exigentes em termos de qualidade. Hoje, os consumidores nacionais optam basicamente pelo preço quando compram qualquer coisa. A relação preço-qualidade fica ausente dos nossos hábitos (...). É preciso um banho de cultura de qualidade e é preciso que esta cultura, quando surge, seja amparada e ajudada, porque por enquanto é uma planta muito frágil."
O que retiro daqui imediatamente? Nós como consumidores ao não sermos exigentes corremos o risco de um dia os produtores também já não o serem. Se nós, portugueses na generalidade não optamos pela relação qualidade-preço, o que nos garante que no futuro os produtores não sigam o nosso exemplo?
Talvez, e espero que sim, se chegue através destes exemplos à conclusão que, de facto, a marca-País é um conceito cada vez mais relevante no contexto mundial actual.
Na revista Marketeer de Julho de 2006, por Maria João V. Pinto foi dito o seguinte:
" (...) não parece haver qualquer dúvida quanto ao facto de a globalização estar a ajudar à concorrência entre os países no sentido de estes conquistarem a atenção, respeito e confiança dos investidores, turistas, consumidores, doadores, imigrantes, meios de comunicação e governos de outros países. Uma marca-País poderosa e positiva oferece, assim, uma vantagem competitiva fundamental. É essencial que os países compreendam como são percebidos pelos públicos à escala mundial, de que forma os seus sucessos e fracassos, activos e responsabilidades, pessoas e produtos são reflectidos na sua imagem de marca."
Contundente, não acham?
As minhas intenções ao escrever este artigo não foram apenas informar e pretender que o leitor pense um pouco acerca deste assunto, foi também de alertar que um assunto de interesse nacional, como este, também pode ser sentido localmente.
A nível local, daqui por três semanas ocupar-me-ei disso. Até lá, bons banhos.
Artigo publicado em: Diário de Odivelas
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