Falar de Abril ainda é para muitos portugueses falar de esperança num país que, em todo o caso, continua por cumprir. Ao CDS cabe uma parte dessa esperança e da responsabilidade de fazer cumprir Portugal.
A 25 de Abril de 1974 eu vivia num Alentejo tradicional, que as primeiras horas do que seria uma revolução colheram totalmente de surpresa. Sucederam-se então acções e reacções diversas, mais ou menos inesperadas, num processo que suscitaria um sem número de emoções contraditórias
E Portugal foi acontecendo, num projecto de democracia que se fazia de mudanças emergentes, de manifestações, e se acrescentava em canções que a liberdade desobrigava do rigor semântico que a qualidade exige.
O país assistia todos os dias à escalada de uma classe média até então incipiente, à consolidação de uma mobilidade social que se fazia de oportunidades e à participação crescente das mulheres na sociedade.
Sucederam-se nacionalizações e saneamentos, e uma reforma agrária que serviu a poucos e que o Alentejo ainda não acabou de pagar.
A ausência de planeamento foi impeditiva da avaliação dos custos que a Europa haveria de pagar; a Europa das oportunidades e dos apoios que mascaravam a incompetência de sucessivos governos e disfarçavam uma espécie de democracia que não passava da adolescência.
Procurou-se dotar o país de infra-estruturas em falta e, efectivamente, elas estão aí.
Contudo, não se investiu em sectores capazes de reproduzir esses investimentos; as pequenas empresas não foram suficientemente incentivadas, e são elas que claramente suportam o desenvolvimento; o desenvolvimento local deixou escapar a sua oportunidade e não se autonomizou o suficiente para fazer esquecer a questão eventual de uma regionalização com custos incomportáveis; as políticas sociais não estimularam o trabalho, antes empurraram para o facilitismo do rendimento mínimo.
Os responsáveis desacreditaram-se, perante uma população sem capacidade para tornar real a democracia participativa que todos queremos.
Dos compadrios e da corrupção passámos para uma sociedade que precisa de escutas e de videovigilância, porque a educação para a cidadania não sobrevive às situações de desemprego e marginalidade que a imigração sem regras agravou.
Falta ainda explicar aos portugueses até onde estes processos constituem uma ameaça à liberdade que hoje comemoram.
Sem querer parecer demasiado pessimista, creio no entanto que a situação do país não se compadece com o romantismo dos cravos que 1974 tornaria símbolos de liberdade e de esperança.
A maturidade da democracia não acontece, constrói-se. E cada um de nós é mais ou menos responsável pelas soluções adiadas em nome de pequenos poderes ou pequenos interesses.
Porque a história não pára e o tempo de cada um tem limites, urge cada vez mais fazer cumprir Portugal.
Mariana Cascais
Odivelas ,24 de Abril de 2010
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